Não esqueça, pela sombra.

Um filete de luz atingiu meus olhos de maneira certeira e assim lentamente ia ardendo minha pele, queimando de maneira suave minhas pálpebras sem causar prejuízos na minha visão... Mas atrapalhava o meu sono, pra variar. Levantei da cama com os cabelos negros bagunçados, a cara inchada de sono e os olhos quase fechando devido o cansaço, porra, era plena segunda-feira e ninguém, NINGUÉM, gosta de acordar cedo na segunda. Um impulso e estava fora da cama, um estalar de dedos praticamente e já estava de banho tomado, pele gelada devido o banho e os cabelos negros sendo amarrados com um pano branco para evitar que ficassem caindo em meu rosto e assim, meus amigos, iniciou o meu dia.

Um dia chato, para variar. Desde que ela saiu do acampamento os meus dias estavam sendo chatos e por que? Por que eu estava sem ter com quem conversar, sem ter quem perturbar quando estava cansado de estudar sozinho no chalé ou treinar na arena... Sem ninguém. Pela primeira vez eu me senti só e quando digo só eu realmente quero dizer só, sozinho neste lugar um tanto desconhecido. Dei suspiro longo, meu dia não seria nada produtivo se não tivesse, sem querer, ouvido falar que semideuses foram enviados para fazer uma missão dentro transatlântico chamado Titanic e, bom, por que não? Por que não ir junto nessa loucura que " certos " campistas estavam fazendo de fugir do acampamento para entrar nesse lugar? Eu não tinha nada pra fazer mesmo e precisava aquecer meu sangue porém, não sozinho. Disparei de volta para o chalé e me armei com quase todas as minhas armas pequenas, coloquei minhas boleadeiras enroladas na cintura e algumas na mochila, deixei o sabre mergulhado em sua bainha e esta presa em meu cinto enquanto colocava todo o meu armamento em coldres e quanto não podia, escondido na mochila ou na parte de dentro da roupa para ninguém ver e como um bom ladino, sai do acampamento.

Até ai, uma vez livre dele, eu poderia ir pra qualquer lugar mas não dava pra ir andando até onde eu queria e por isso assoviei quando estava a quase três ou quatro quilômetros do acampamento e sorri com felicidade quando ele chegou. ── Hey! Pronto para mais um desafio? ── Perguntei para o cavalo negro e infernal que relinchou para concordar e me dava espaço para subir nele.  ── Vamô, cabeça. Precisamos chegar nela antes que ela venha pra cá e sem teimosia quando for nos levar para o porto, ouviu? ── Expliquei ao animal que simplesmente bufou e com um impulso das rédeas correu, quase como o vento hihi, em busca da minha donzela... Ou melhor dizendo, minha protetora.

Qualquer garota já deve ter sonhado em ser uma donzela, de ter seu príncipe encantado sobre um cavalo branco e magnífico que veio para a salvar de um dragão ou de uma perigosa bruxa, há! Mas não, esta não eram as circunstâncias. O cavalo branco deu lugar a um monstro de formato equino mas totalmente feito de ossos e um fogo leve que não queimava; O cavaleiro era um garoto magricela e todo idiota e a donzela, bem... Ela tinha forças o suficiente para descer a porrada nele durante esta e umas duas vidas depois desta. Inicialmente ela me perguntou o que porra eu estava ali então, bom... ── Te buscar? ── Brinquei antes de fazer o animal abaixo de mim relinchar e levemente se inclinar enquanto oferecia a mão para a pequena filha de Hades. ── Ou te convidar para a maior missão das nossas vidas: Entrar no RMS Titanic. ── Disse antes de sorrir de forma convidativa, bom, conhecendo Nerisa talvez ela não fosse, talvez eu não fosse mas era aquilo, éramos os campistas mais fortes do acampamento e aqueles lá não me pareciam tão fortes para uma missão tão grande e... Poderosa.

É, ela nunca iria entrar em uma aventura assim, do nada e a troca de nada. ── É... Acho que vai ser complicado te explicar isso, mas, bem, eu fugi do acampamento então não tem como o Quíron ter me mandado te buscar. ── Tentei explicar mas a sensação era de ter a mão pesada de Nerisa já se fechando meu pescoço e me fazendo sufocar enquanto gritava e me dava bronca por ser louco a este ponto só que, de uns tempos pra cá... ── É uma sensação estranhas mas não confio em quem o Quíron mandou para a missão, eles não me parecem tão treinados e muita gente seguiu o exemplo de outros e foram embora escondidos do acampamento. ── Eu disse enquanto descruzava os braços e novamente oferecia apoio para a pequena subir e sorri, um sorriso idiota enquanto mordia o lábio inferior e mastigava a pele de maneira retardada. ── Hm, veja isso como uma missão de resgate mas a diferença é que nosso somos a polícia do acampamento e vamos trazer de volta esses loucos que fugiram... Somos a justiça, hihi. ── Soltei antes de piscar e deixar a coisa seguir com a escolha dela.

Com o tempo você passa a conhecer as pessoas e algumas coisas delas te fazem sorrir mesmo que seja, no minimo, apavorante para outras. E foi assim que soltei a pequena risada e fechei os olhos lentamente ainda com a imagem de seus olhos verde-azulados em minha mente. ── Hey, eu já sabia que você provavelmente não iria se arriscar nisso. ── Comecei e abri meus olhos a tempo de notar que ela já estava começando a perguntar algo sobre " Se já sabia, por que chamou? " ── A resposta é simples: Eu preciso de você. Onde já se viu se meter em uma aventura sozinho? É mais divertido em dupla, as chances de voltar são maiores e... ── Eu gosto da sua presença, sim, era o que eu gostaria de ter dito mas a última vez que falei algo assim para Nerisa minha resposta foi um soco no nariz pouco antes de iniciar a missão ao qual consegui Pesadelo. ── ... E bom, é isso. Você que sabe, se quiser mesmo voltar para o acampamento pode ir, eu nunca teria força o suficiente para te amarrar e levar comigo forçada e até por que isso não faz sentido pra mim. Estou te convidando e estou te mostrando o motivo pelo qual te chamo, então... ── Tagarelice. Tagarelice everywhere, ô Senhor, tira de mim essa vergonha e essa timidez por que assim fica difícil, viu?

O longo silêncio se fez e eu esperei por sua resposta sem dar um pio. O único barulho que vinha de mim era o da minha respiração calma a espera de Nerisa, naquela ansiedade para saber se ela iria comigo ou não até que notei sua mão se esticando para frente e novamente estávamos juntos em uma aventura que poderia nos levar a morte. Esperei a pequena se ajeitar na minha frente e em seguida veio sua pergunta enquanto eu descia as mãos para pegar as rédeas do cavalo e rir baixinho. ── Foi em uma missão pouco depois de você socar o meu nariz naquele dia. ── Contei e sacudi as rédeas para explicar ao cavalo que já podia seguir em frente e mais lá pra frente ela tornou a falar e eu tornei a fechar os olhos para aproveitar os poucos segundos de paz que tinha. ── Eu conheço sua força, pequena rainha. ── Sussurrei antes de voltar a abrir os olhos. Rumo ao Titanic e além!